Bem vindo ao Tête-à-tête com Silvio Teixeira: um espaço de opinião muito especial que nos orgulhamos de poder incluir no nosso website.
Acompanhe os comentários sábios, inteligentes, perspicazes e bem humorados do autor. Conheça-o melhor no final do artigo.
Neste novo episódio, “O Dia que o Allejo Chorou!”, o autor nos traz uma história ocorrida em um torneio de futebol, na distânte década de 90.
O Dia que o Allejo Chorou !
Uma das vantagens de se ter mais de 40 (uma das poucas vantagens, é verdade) é que joguei praticamente tudo que saiu para todos os consoles desde o pré-histórico telejogo lá pelos anos 70.
No que toca a jogos de futebol, um em especial foi marcante para toda uma geração, o Superstar Soccer da Konami que foi lançado lá por 94 e que rendeu muitos campeonatos e viradas de noite na minha antiga locadora e sala de jogos, a “Spider Games”.
Pois foi em um destes corujões que aconteceu um torneio de futebol inesquecível colocando frente a frente as quatro grandes locadoras da região. Eu mesmo não poderia jogar pois era o proprietário da Spider, mas meu representante era o Toninho, um gigante à frente de um Super Nes, apesar de ter apenas 1,45 e uma cara de quem não tem mais que uns 9 anos de idade. O aspecto do Toninho era uma das suas grandes vantagens já que os adversários substimavam seu potencial, achando que ganhariam o que quer que fosse de lavada, e no entanto raramente era ele o perdedor.
Nos demais consoles espalhados pela sala o pessoal da Mil Games e da Hard Games contavam mais vantagens do que parecia ser possível, mas era o pessoal da Schlep Games que nos metia terror. Além de ter uma equipe bem treinada, com pessoal que realmente levava o jogo a sério, eles tinham o Junior, que era Junior apenas no nome. Com cerca de 1,80 de altura devia pesar bem uns 150 kilos, facil, facil. Ele usava uma cadeira especial, pois a da locadora poderia quebrar com seu peso. Junior era tipo profissional em uma época onde isso ainda não existia. Chegava nas locadoras e pagava logo 4 horas direto. Abria uma coca-cola 2 litros e só parava de jogar quando terminasse um jogo. Para piorar era fanático por futebol, tendo participado de um dos primeiros campeonatos estaduais que ocorreram por aqui naquela época. Ninguém sabia dizer exatamente como ele se saiu, mas só o fato de ter participado de um estadual lhe conferia um status diferenciado na comunidade. E ele não decepcionava, no comando da seleção brasileira (na epoca não existia os clubes locais mas apenas os nacionais) ele arrasava com os adversários com goleadas memoráveis. Dava gosto de vê-lo jogar, mas desta vez ele era adversário.
Toninho ia comendo pelas beiradas, seja por conta dos adversarios que o substimavam, seja pela qualidade de seu controle a frente do time, acumulou vitórias com certa facilidade. A cada partida que jogavam, a cada fase que terminava, mais próximo viamos uma final entre nossa versão citadina de Davi e Golias.
A madrugada já ia alta quando o fátidico momento chegou, Junior vinha de uma vitória de 8×1 sendo que fizera os 8 gols com o mesmo jogador, o endiabrado Allejo, craque da camisa canarinho que nunca existiu na vida real. Era uma época onde as produtoras não podiam pagar os direitos autorais para usar os nomes verdadeiro dos jogadores, então usavam nomes genéricos, que criava os novos mitos no esporte digital. Toninho vencera um jogo discutido por 5 x 4, seu adversário alegou que tomara um gol quando havia pedido pause para uma coçada no nariz, mas conforme a regra do torneio, cada adversário só poderia pedir um pause por partida, e ele já tinha se coçado no primeiro tempo.
Junior não era do tipo que substimaria um adversário em uma final, mas a verdade é que sua habilidade no jogo associada ao tamanho do Toninho deve ter pesado na encarada inicial, a qual tivemos de levantar o Toninho no colo para a foto. A primeira disputa foi para decidir quem usaria o time brasileiro já que os dois tinham essa preferência. E desta feita a moeda decidiu para o lado do Junior. Restou ao Toninho o bom selecionado Italiano.
O inicio da partida foi arrasador, com cerca de 5 segundos Junior, com o imparável Allejo, fez um golaço driblando até o goleiro enquanto Toninho ainda estava colocando a camiseta por sobre o direcional para não escorregar. 1×0 para a Schlep!
Poucos notaram, mas eu fui deles. O Toninho não fez nada, só olhou para o Junior que ainda ria alto, olhou para a tela e deu a saida novamente. O jogo ficou tenso, Toninho tocava a bola de primeira, o Zagueiro Premoli parecia andar com a bola grudada no pé, ora tocando para Pabi, ora para Graziano. Os jogadores brasileiros pressionavam, por duas vezes roubaram a bola mas desta vez Toninho estava mais ligado, com os olhos arregalados fazia o goleiro Pagani saltar de um lado para o outro catando a bola. Em uma destas ele lançou a bola até o meio de campo e de lá mesmo, do grande circulo central Coliuto chutou. A bola fez uma curva (dentro da medida do possivel que da va para fazer curva na epoca) e entrou nas costas do goleiro brasileiro empatando a partida e fazendo Junior virar o refrigerante no chão da locadora. Levei cerca de duas horas limpando meleca de coca-cola. E o primeiro tempo terminou com empate de 1×1.
O segundo tempo começou com a solicitação de que o pessoal chegasse mais para trás. Todo mundo queria ver quem estava segurando aquele empate improvável. E confesso que a infra estrutura deixou a desejar para a quantidade de pessoas em volta dos televisores de 20 polegadas.
Então o que ninguém (menos eu) acreditava aconteceu. Tocando a bola, Coliuto consegue chegar a linha de fundo e cruzar para a área brasileira, Carboni matou no peito, girou de costas, levantou a bola e fez um golaço de bicicleta, deixando o goleiro Da Silva socando o chão. Eu delirava com o resultado, enquanto olhava a explosão de raiva do gigante Junior que de repente espumava e olhava para o Toninho como se fosse engolir o menino, e pelo tamanho de ambos, eu acredito que fosse possível, mas o nosso pequeno polegar nem dava bola.
Beranco e Gomes faziam de tudo para ajudar Allejo, mas nada de sair gol. Mas o Junior era um monstro (e nem estou falando da aparência) e não desistia. Faltava cerca de um minuto para terminar. Então com uma sequencia de giros de Allejo ele conseguiu chegar novamente na cara do goleiro Italiano, e com um toque no outro canto, fez o gol de empate. Maldito empate.
Infelizmente para o Toninho (e para mim), em caso de empate, a regra determinava que o saldo de gols das partidas anteriores decidiria o vencedor, e este saldo era amplamente favorável ao Junior, logo bastaria a ele segurar este empate e seria o campeão.
A tensão era sólida, Toninho não se mexia, apenas tinha arregalado mais ainda os olhos, tive um certo receio que um deles pudesse cair para fora da órbita. O jogo recomeçou e havia tempo para um ultimo ataque, Toninho controlava Galfano em uma corrida em diagonal, Junior controlava Allejo trazendo o time todo para a defesa e fechando a possibilidade de chute. O jogo terminaria quando a bola fosse para o meio de campo, isso nunca mudou nos jogos de futebol, então Toninho fez que ia correr, o goleiro Da Silva se adiantou sozinho, Galfano cortou e chutou. A bola passava rente a linha quando Allejo chegou para tirar e acabar com a ultima chance do jogo. No entanto há certas coisas que nunca vamos entender porque, e neste caso acabamos culpando a Konami, a EA, o Sol, a coçeira, qualquer coisa, mas o fato é que em vez de tirar a bola o grande Allejo se enrolou e entrou com a bola para dentro do proprio gol.
Gol contra, vitória do Toninho…
Na tela da televisão um Allejo de quatro no gramado chorava o gol contra feito. Na sala, o gigante esbraveja, urrava, queria revanche, alegava que o controle falhara (e não seria possivel verificar já que ele fez voar o controle na parede), e que as pessoas o teriam prejudicado.
Eu e o Toninho decidimos sair para encher a cara com umas duas ou três coca-colas. Nem chegamos a escutar toda a lista de desculpas gritadas que pareciam não ter fim, vindo da sala de jogos. Coisas de quem perde.
Ganhar, perder, faz parte. Mas é muito bom quando estamos do lado que ganha, e daquela vez ao menos, nós estávamos.
Por enquanto é só pessoal! Vazaaaaaando!
Parabéns, excelente narrativa Silvio. Consegui imaginar a cena toda, como se estivesse na locadora da esquina de casa, a extinta (como todas) Top Games. Show mesmo, abraço.
Bicho, tinha uma versão do ISS com um time do peru todo no máximo. Era um bug, vc lembra disso?
Acho que é por esse texto, que muitos pensavam que o Silvio Teixeira, era eu que escrevia… ou vice-versa! kkkkkkkkkkkk lindo texto! Toninho esta no fifa 14? 😛
Toninho não tem jogado mais, virou pai de familia, cresceu (dentro da medida do possivel) mas ainda estes tempo o vi pessoalmente.
Na boa cara. Lembrei desta época do super star soccer, aquele que veio junto com o controle dourado. Aquele controle que fez mostrou o lado bom dos games. Parabéns pela matéria.
Nossa Allejo, vulgo Bebeto, nessa mesma epoca eu destruia com a Holanda Tambem, um time muito rapido de excelentes jogadores, que Felizmente na copa daquele ano de 94 meu Brasil foi campeão eliminando Holanda com gol de Branco de falta, e a Final contra Italia nos penais, mas que relato seu este hein, foi para lavar a alma, na altura de meus 42 anos, sempre fui fã do fut da Konami, mas a partir do FIFA13 me rendi a esta maravilha, mesmo pq durante o PES 13 todo jogo que eu estava ganhando, sujeito pesava a conexão fazendo batota, 3 meses de PES fiquei nervoso e fui atras do FIFA, com todos amigos falando bem e eu resistente no PES, de janeiro para ca, meu consola nunca mais viu o Pes, alhas viu sim o demo do pes14, um lixo!!!
Temos experiencias parecidas, tambem era fã da Konami, fui do PES mas o Fifa superou e vim para este lado da força. Tenho jogado um pouco o PES todo ano para avaliar suas melhorias, e ele está melhor que o ano passado, mas longe do Fifa ainda. É otimo que ele melhore, pois a concorrencia faz com que a EA não se acomode e siga melhorando o Fifa. Aliás estou com muito boas expectativas para o Fifa14 versão novos consoles!
Abraço de dinossauros
Uau!! que noite heim!!! coisas assim nós nunca esquecemos!!!
Principalmente se saimos vencedores. Os perdedores esquecem (ou ao menos fazem de conta que não lembram) rsrsrs
Abraço
Sensacional!!!
Não só me imaginei no local como relembrei os vários torneios dos quais participei!!
Entre meus amigos sempre fui o melhor e sempre quando tinha torneio era o alvo, todos os outros torciam contra mim, independente do adversário. Num desses enfrentei meu irmao, que por ser pior sempre jogou com time mais fraco pra ser zebra, e num jogo de fase de grupos, bons tempos de ps2, ainda a sala toda lotada pra ver eu enfrentando ele e uma gritaria irritante contra mim. Eu jogando com a Itália e meu irmão com a Costa Rica, eu no 4-3-3 e meu irmao num ferrolho de 5-4-1. O jogo todo tentei de todas as formas, chute na trave, goleiro pega, bate na defesa, enfim um massacre mas nada de gol. O jogo ia se encaminhando pra um 0a0 já que eu não fazia gol e meu irmão não passava do meio campo até aquele minuto 89!! Meu time todo no ataque e ele pega no meio campo na lateral e vai correndo até a linha de fundo. A cada passo do jogador o ar de incredulidade das pessoas na sala só ia aumentando junto com o som “i, i, i, i…” até que chega a linha de fundo, cruza e Wanchop, jamais me esquecerei dele, sobe e testa sem chance pra Buffon. Pronto, o rei perdeu, gol do Brasil, feriado nacional, é festa, acabou o jogo, acabou o torneio, não precisa mais de nenhum jogo, vamos fazer churrasco agora. Obviamente eu não curti, longe disso, queria revanche, queria terminar o torneio e provar que eu era o melhor. Ganhei o torneio no fim, a final nem foi contra meu irmao (nem lembro contra quem foi), pouco importava, aquele torneio será lembrado sempre pelo dia em que perdi da Costa Rica no último minuto com um gol de Wanchop, o resto é história!
Grande abraço!
Uma historia puxa a outra, e com certeza muitas delas inesqueciveis, não importa se foi na semana passada ou 30 anos atrás. Estes jogos fizeram história nas nossas vidas.
Como é bom ler uma boa narrativa. Como é bom ler boas histórias, a nostalgia, a mágica do jogo, e principalmente ler sobre vitórias que poderiam ser um clássico do futebol. Muito bom. Ótimo texto.
Obrigado amigo, eventualmente deixarei algumas outras por aqui. Em 4 anos com a locadora, histórias interessantes não faltaram, naturalmente nem sempre o final era tão feliz quanto esta para mim rsrsrs.
Abraço
Lembro que meu amigo sempre arranja uma desculpa quando perde para mim, rsrsrs.
Começou a loucura pelos jogadores! Está muito caro e o pior é que não temos tantas coins ainda.
Grande abraço!
E não é assim na vida real também? Quem perde sempre coloca a culpa no árbitro. Faz parte…
Quanto aos coins, não temos, mas ninguem tem mesmo, então estamos em igualdade com todos, logo nada de afobação pois ninguem dos consoles está conseguindo fazer negocios mesmo. Nos PCs conseguem porque já podem comprar Fifa Points, mas nos consoles, estamos indo devagar.
Abraço
Relato bestial. Parece que estou a visualizar tudo como se de um filme se tratasse mas com os pormenores que só um livro nos oferece.
Grande artigo, mais uma vez.
Como é bom escutar estas histórias, me transportei para o local da partida. Lembro na minha infância, como nunca fui bom nisso, ficava nos fliperamas só observando. Escolhia o local onde havia mais aglomeração, logo se via que disputavam os melhores. Ficavam todos de olhos grudados na tela esperando o final dos jogos. Bacana Silvio, muito bom, achei até que ficaríamos sem esta crônica hoje por causa do fifa 14 web upp. Por sinal, o povo tá ficando maluco, ninguém tem moedas e eles colocando os preços nas alturas. kkkkkkk Um grande abraço.
Obrigado pelas palavras meu amigo. Foi um tempo muito bom. E quer saber de uma, o Toninho da história, alguns dias atrás o vi novamente, depois de cerca de 20 anos. Nunca mais o tinha visto e acabou de nossos caminhos se cruzarem. Ele não cresceu muito mais não, mas agora é pai de um menino, que naturalmente, joga muito no Fifa13 🙂
Quanto a loucura das coins, nem me fale, pessoal está insandecido. Vai ver quando liberar a compra de Fifa Points para console.
Abraços
Voce acha que ganharia do junior?
Não. E provavelmente se o Toninho jogasse de novo, perderia. Ele jogava demais, mas nem todo dia acontece… 🙂